Romeu e Julieta numa versão canina.
1ª parte de 4.
Cadela de estirpe boa
Das bandas lá do Japão
Tratada como pessoa
Viajando de avião
Usando roupa à Chanel
Colar de ouro e anel
Jantando caviar e salmão.
Uma verdadeira princesa
De um palacete real
Da mais pura realeza
Nunca dada a um animal
Fazia consulta a dentista
Consultava psicanalista
E fazia terapia ocupacional.
Em Bragança ela chegou
Foi logo atração local
Todo mundo logo parou
Pra ver o belo animal
Que desfilava numa cautela
Igual modelo em passarela
Frente à mídia internacional
Quando chegava à praça
Eram muitos os pretendentes
Mas só cachorro de raça
Alguns bons, outros valentes
Tinha gordo, tinha magrela
Faziam fila atrás dela
Todos muitos contentes.
Tinha cachorro de doutor
Também tinha de juiz
Até cachorro de vereador
Queria meter o nariz
Tinha de empresário
Tinha também de bancário
O do prefeito não quis.
Era só cachorro elitizado
Pra com a Meg namorar
Mas ela nem se importava
Pois não queria casar
E não dava confiança
Pros cachorro de Bragança
Que a queriam conquistar.
Veio cachorro paulista
Veio outro de Macapá
Veio animal surfista
Trazido do Canadá
Mas ela nada queria
Até o momento em que via
Um vira lata passar.
Era um cachorro imundo
Com o couro todo pirento
Também era vagabundo
Safado e muito nojento
Mas era muito namorador
Porém o mais conquistador
Apesar de ser fedorento.
Tinha o rosto alongado
O rabicho era cotó
O olho direito furado
Aleijado de um mocotó
A orelha de pira fedia
A outra toda caia
Que só de vê dava dó
Não se deve discutir
Pois cego é o amor
Seja a filha de gari
Com o filho de um doutor
Ou de uma linda cadela
Seja ela ainda donzela
Com um cão sem pudor.
Assim se deu o enredo
Da Meg com o João
Só quem sabe este segredo
É quem prestou atenção
E que pôs tudo anotado
Pra ficar sempre lembrado
Desta grandíssima paixão.
Wilson Quadros
Categories:
Literatura de cordel