Romeu e Julieta e numa versão canina
4ª parte de 4 (final)
Um dia sem esperar
Algo estranho aconteceu
João ficou muito triste
E logo empalideceu
Não comia e nem dormia
A noite toda gemia
Não demorou e morreu
Agora vou narrar
O ápice desta história
Do casal Meg e João
Que não teve muita glória
Um caso de sofrimento
E de um amor ciumento
Pra registrar na memória
Chegou um dia na rua
Vindo do maranhão
Um cão velho e magro
Os olhos em dilatação
O rabo todo cortado
O nariz do lado rachado
E uma bicheira na mão
Um lado da pata traseira
Tinha um corte de terçado
O lado direito tinha
O joelho todo amassado
Na barriga do animal
Um verdadeiro lamaçal
De pulgas num assanhado
Fora no passado caçador
Bom de capivara e tatu
Tinha mestrado em paca
Doutorado em catitu
Nas horas de folga fazia
Na faculdade de Alexandria
PHD em pirarucu
Corria a cem por hora
Dava salto mortal
Seja paca, tatu ou anta
Pegava qualquer animal
Fosse de noite ou de dia
Fosse anta ou cotia
Era Pra ele normal
Mas com o passar do tempo
Houve grande preocupação
Porque milhares de animais
Ficaram em risco de extinção
Outros foram perseguidos
Muitos outros comidos
Lá na mesa do patrão.
O cão valente e feroz
Num dia de perseguição
Viu um cria e os filhos
Numa boa amamentação
Se recusou a pegá-los
Ou até mesmo devorá-los
Por pena ou comoção.
Fora muito maltratado
Sofrera perseguição
Perdera o posto de líder
Sofrera humilhação
Desse dia em diante
Aquele cão possante
Tomara uma decisão.
Resolveu não caçar mais
Para fúria de seu patrão
Que nem mesmo hesitou
Em deixá-lo em solidão
E assim o cão humilhado
Tomou rumo ignorado
Para um outro torrão.
Andou dias e noites
Passando necessidade
Não comia e não dormia
Mais tinha sua liberdade
Não caçava mais animais
E nem tinha um capataz
Incentivando à maldade
E assim foi definhando
Conforme já foi narrado
Encontrou um novo amo
Um homem civilizado
Que o trouxe do Maranhão
Em cima de um caminhão
Muito bem acomodado.
Chegando por aqui
Ficou meio encabulado
Tornou-se amigo do João
E andavam lado a lado
Mas quando a Meg o viu
Sentiu logo um calafrio
Da cabeça até o rabo.
Deixou o João de lado
E só atrás do estrangeiro
Que já estava mais forte
E já andava até ligeiro
O dito cuja era o motorista
E o João era o passageiro
Foi amor à primeira vista
Da cadela e o caçador
O João ficou pra trás
Sentindo bastante dor
Passou a viver na solidão
E morreu de depressão
Como um cão sem valor.
Wilson Quadros
Wilson Quadros
Categories:
Literatura de cordel