3ª parte de 4
Acontece que o patrão
Toda semana viajava
E no quarto de cima
A Meg ele trancava
Mas João muito esperto
Viu um espaço aberto
E por lá entrar planejava.
Mas por promiscuidade
Contratou um segurança
Um senhor já de idade
Mas de muita confiança
Que ia de dia e à noite
Sempre na mão um açoite
Pra fazer uma matança
Ficou esperando João
Vários dias de cautela
Até haver uma distração
Pra entrar pela janela
Até que este dia chegou
Foi uma noite de amor
Que não existe em novela.
Quando amanheceu
E o segurança entrou
Algo errado percebeu
E o açoite trabalhou
O cão saiu contente
Daquela noite excelente
Regada com muito amor.
Apesar de ser açoitado
Ele saiu sorridente
Era um pobre coitado
Mas no amor era valente
E mesmo sentindo dor
Ele promoveu muito amor
Aquela cadela carente.
Depois que tudo passou
Algo de bom aconteceu
João, portanto engordou
O pêlo logo desenvolveu
As feridas também sararam
As pulgas todas saltaram
Só o rabo que não cresceu
A Meg a barriga cresceu
E raivoso ficou o patrão
Não demorou logo nasceu
O fruto dessa união
O que a Meg não gostou
Foi a mudança que se passou
Pela cabeça de João
Os filhos meio estranhos
Não pareciam com João
Os olhos eram castanhos
Havia umas pintas nas mãos
As orelhas avermelhadas
As narinas bem afinadas
Que até chamavam atenção
O Pai muito desconfiado
Observava com cautela
Pensando precipitado
No coração uma procela
“Será que em vadiagem
Teria a Meg coragem
De ter pulado a janela?”
Ou seria apenas incerteza
Por ela ter outra cultura
E o João na pobreza
Criado só na amargura
Só sei que esta história
Está guardada em memória
Da nossa literatura.
Aquela em qual Bentinho
Desconfiava de Escobar
Pois Capitu com carinho
O convidava a bailar
Gerando uma confusão
Ou uma possível traição
Que Machado veio a narrar.
E assim estava o João
Psicologicamente abalado
A Meg não dava atenção
E ele muito desconfiado
Porque na rua da casa
Ela já arrastava a asa
Pra outro cão mais safado.
Wilson Quadros
Wilson Quadros
Categories:
Literatura de cordel